Despedidas
“É dura a dor do parto, mas eu tenho que partir”. Desde o momento que a criança nasce ela é submetida a várias separações, desde sair daquele ambiente gostoso, quentinho e aconchegante onde ela viveu os últimos meses, até o corte do cordão umbilical. Ô, dó!
E pior, se não nascer de um parto no tempo certo, humanizado, ela ainda corre o risco de não ser levada imediatamente ao colo da mãe ou até ser separada, levar palmadas, ser aspirada… “Que mundo é esse?! Era melhor ter ficado ‘quetin’ lá dentro!”
A dor da separação se inicia quando o bebê chora e não vem ninguém acolher. Quem não se sentiria sozinho? Ele de fato só será capaz de entender essa ausência depois de alguns meses, quando começa a se dar conta de que é um ser independente, mas antes disso o sentimento já pode estar enraizado. Geralmente o primeiro grande choque começa lá pelos 4 a 6 meses, quando a mãe precisa voltar a trabalhar fora de casa, e ela geralmente faz isso carregando uma enorme culpa, até porque não fez uma transição tranquila.
Mas não é só a mãe que importa, o pai também. Eu me lembro das ausências do meu pai em conferências e congressos que duravam às vezes uma a duas semanas, e sei que tinha febres de 40ºC por conta disso. Como minha rotina de trabalho também envolve viagens, eu tinha essa consciência de que não poderia deixar meu filho sentir minha falta. Por isso, desde as primeiras semanas de vida, a cada vez que eu saia de perto dele eu dava tchau, às vezes só para brincar (“Tchau! Cadê papai? Achooou!”). “Nossa, mas nessa idade nem entende nada!”. Sim, mas quando ele começou a entender, o “tchau” já era normal.
Acho que por tudo isso, com o Luiz Gustavo a despedida sempre foi tranquila. Me lembro da minha esposa contar que na primeira vez que ela teve que deixar o Gugu com meus sogros para ir trabalhar ao fim da licença, combinamos que ela iria logo cedo para passar a manhã lá com eles. Lógico que ele já tinha convívio com os meus sogros, mas a questão é que depois do almoço na hora de sair meu sogro falou pra ela sair de fininho, mas ela foi lá, deu um grande abraço, um beijo e disse: “mamãe vai trabalhar e volta ao fim do dia”. Ele abanou a mãozinha dando tchau e foi brincar com a vovó. Sem stress!
Despedidas fazem parte da vida! Porém, são traumáticas apenas quando a dor da ausência dura mais do que a alegria de sentir a presença da outra pessoa em nosso coração.
Se cuidem e Feliz 2021!
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