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Como promover a motivação no jogo da vida? 2.0

Quando o homem deixou de ser um selvagem e começou a viver em famílias e sociedade, a motivação 1.0 do medo de um perigo deu espaço à necessidade de hierarquia e regras de convívio que podemos interpretar também como competição e controles dentro do grupo. E isso nos levou a criar outras ações além da “luta e fuga” para reagir a cada tipo de ameaça. O medo ainda permaneceu presente, mas deixou de ser algo inesperado e passou a ser aplicado deliberadamente. Segue o fluxo:

Motivação 2.0

Ninguém nasce com medo, ele é imposto desde a infância, através das ameaças e repreensões. E esse temor crônico e imposto – e com o objetivo de conseguir algo – pelos outros vai além do anterior, pois se baseia em uma estratégia cultural muito utilizada desde os primórdios e ainda bastante presente em nossa sociedade até os dias de hoje: o receio da punição e da perda.

Por aqui criança que faz bagunça leva chinelo e cinto, mas só para se divertir vestido como o papai

A educação de crianças e animais até a primeira metade do século passado era mais difícil, afinal controlar uma família numerosa, com diversos riscos e conflitos com certeza era muito estressante. Não era à toa que muitos pais e “donos” de pets tentavam controlar os pequenos à base de “medidas corretivas”. Crianças eram agredidas com chinelos, cintos ou qualquer outro objeto à disposição, e colocados em castigo, assim como os cães, que eram inclusive aprisionados ou acorrentados. E essa cultura do medo também foi a forma como as escolas, as igrejas, os governos, entre tantas outras instituições, inclusive no trabalho, promoveram majoritariamente os padrões de comportamentos “exemplares” desejados nos indivíduos. Medo do castigo, da reprovação, do inferno, da guerra, da perda do emprego nortearam grande parte das decisões das pessoas nessa época. Prova disso são muitos dos regimes totalitários (monarquistas ou ditatoriais) do passado e também dos regimes populistas e fascistas que dominaram as grandes nações mundiais, principalmente até a primeira metade do século XX, e todos tinham como fator primordial promover o medo para se proporem como a “salvação da pátria” e manutenção da “ordem e progresso”.

No caso da educação das crianças nas escolas, isso não era muito diferente. Agressões verbais e castigos físicos ou de privação de liberdade eram frequentemente utilizados como forma de educação em casa e nas escolas (simbolizado nesta pela palmatória ou o “chapéu de burro” virado no canto da sala). Ou você cumpria suas tarefas domésticas e acertava a tabuada ou já se preparava para ataques psicológicos e violência desmedida. Era ou não um bom argumento para aprender desde cedo a ser “certinho”?

Até o século passado, em casa ou na escola era costume deixar as crianças de castigo imóveis em um canto, como se isso fosse um eficiente “cantinho do pensamento”_Bing IA

Tanto na educação das crianças quanto no adestramento de cães, nas últimas décadas observamos uma mudança nesse paradigma, diminuindo e amenizando as punições e substituindo pela oferta de recompensas ou incentivos. A premiação, apesar de menos grave e também presente na sociedade desde o início da humanidade, ganhou mais força a partir da segunda metade do século passado. Creio que possa ter sido alavancada por uma aversão à criação parental da geração anterior, que agora eram pais e mães com mais acesso à informação (TV) e com menos da metade dos filhos em média, e talvez impulsionada pelo capitalismo pós-guerra e a grande oferta de “presentes”, usados pelos adultos como uma forma de “comprar” a criança.

Apesar de hoje não soar tão bem, esses fatores funcionam muito bem como arma de persuasão. A igreja é uma das instituições que melhor usa essa dualidade da motivação 2.0: se for bonzinho vai par o céu, mas se for malvado seu castigo será o inferno, eternamente. Mas esse modelo de punição ou premiação pode não ser tão eficiente para tarefas mais complexas e ações de maior prazo.

As falhas do sistema punição x premiação

O excesso de cultura do medo pode provocar uma certa “anestesia” e fazer um “efeito rebote”, e ao invés de motivar a fazer o que se espera, provoca uma resposta contrária, uma rebelião. No clássico PacMan, em determinados momentos ao absorver um ponto energizante,os fantasmas ficam vulneráveis e é a hora em que o “come-come” pode derrotá-los. Na vida, quando esses “saltos de desenvolvimento” acontecem, a criança confronta o adulto, por exemplo nos períodos de “terrible two” e da puberdade. E se a conexão não foi bem estabelecida antes, tudo fica mais tenso nestes momentos.

Do mesmo modo, funciona bem para tarefas simples e de curto prazo. O incentivo, como nos jogos de videogame, da pontuação e de pegar recompensas ao longo do caminho (como as frutas do PacMan, ou ainda mais evidentes em jogos como Sonic e Super Mario Bros, respectivamente com seus anéis e moedas), o prêmio é uma das principais estratégias para “prender” o jogador. Mas como em muitas situações, o excesso de premiações – “faça isso, que ganha aquilo” – provoca uma reação de “dependência”, na qual só se faz algo diante de um novo benefício, e à medida que se “passa de fase” a recompensa (e o perigo) precisam ser maiores para satisfazer o jogador, e aí o vício pode dominar até o ponto de não haver nada que importe mais: “zerar” o jogo sem perder vidas (e/ou tempo) e ganhar o máximo de pontuação (recompensa) possível.

GIF do jogo Pac Man versão do Atari de 1982
(imagem: https://archive.org/details/a8b_Pac_Man_1982_Atari_US_a3_k_file)

E será que o excesso desse tipo de sistema de recompensas desde a infância pode ser um grande fator influenciador para que na adolescência tantos jovens começarem a se drogar ou se arriscar, pois precisam aumentar o nível de desafios e satisfação? Um ponto a se pensar!

A nível corporativo, esse modelo provoca algumas deficiências a médio/longo prazo, como promover o imediatismo e a dependência do sistema, além de desincentivar o desempenho, a criatividade e a até a ética.

A não ser que você seja um sadomasoquista, e sinta prazer em sentir e infligir dor, ou um caçador de recompensas, creio que você vai concordar que podemos evoluir nossa cultura para uma forma mais assertiva e duradoura de se motivar: um propósito.

E na vida, qual a razão que te faz se levantar da cama todos os dias e lutar as mesmas batalhas?

Um grande abraço,

Pai Alfa.

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Pai Alfa
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