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Usando o cérebro: como controlar os impulsos?

Você sabia que nosso cérebro é um dos últimos órgãos do nosso corpo a ficar totalmente pronto? Também, são 86 bilhões de neurônios que precisam ser formados e mielinizados (tipo encapar o fio para não dar curto). Não é à toa que demora mais de 21 anos para chegarmos ao total amadurecimento (apesar de que para alguns acho que nem 100 anos são suficientes! Rsrs).

Nosso sistema nervoso começa a ser formado lá pela terceira semana de gestação e o cérebro só vai ter aquele formato já conhecido mais para o final da gravidez (isso varia com o peso do feto). Só para se ter uma ideia, o cérebro de um recém-nascido tem uns 300g e ele ainda vai crescer umas 5 vezes mais até ficar adulto.

Por outro lado, a maior capacidade de aprendizado é quando somos bebês – haja visto que aos 12 meses o bebê pode ter o dobro de conexões nervosas do que quando fica adulto – e essa capacidade absurda de processamento é uma faca de dois gumes. Isto porque, se estimulado negativamente nesta fase, o stress precoce, traumas psicológicos, lesões, doenças e até contato com algumas drogas, podem afetar as respostas fisiológicas e comportamentais, afetando a memória, o desenvolvimento cognitivo, provocando ansiedade, agressão e até uma desaceleração no crescimento do cérebro. Ou seja, problemas que podem valer pra vida toda! Posteriormente, dos 2 até os 4 anos, boa parte das conexões neuronais são naturalmente “podadas” (isso também ocorre logo após o nascimento e no início da puberdade). Por isso, uma boa situação ambiental e estímulos adequados são essenciais na primeira infância para que as melhores conexões se mantenham. Afinal, “O que não é usado, atrofia”!

Como funciona?

Nosso cérebro é programado para processar mais de 90% das informações e comandos corporais de forma inconsciente ou subconsciente (será que é daí que dizem que não usamos nem 10% da nossa mente?). Fazer muitas coisas no automático nos ajuda a economizar energia e sobreviver. Já pensou que se diante de um perigo iminente ter que se lembrar de aumentar os batimentos cardíacos, contrair as artérias para aumentar a pressão arterial e injetar sangue mais rápido nos músculos das pernas para fugir, dilatar os brônquios para aumentar a retenção de oxigênio e dilatar as pupilas dos olhos para melhorar a visão? E tudo isso só para procurar um lugar para se proteger depois de susto? Não iríamos nem sair do lugar, concorda? Se for um ataque, vai ser do coração. “Mor-ti-nho-da-Sil-va”!

Nosso cérebro é uma estrutura bastante complexa e nas últimas décadas foi entendida como sendo dividida em 3 estruturas interdependentes:

O modelo trino de divisão do cérebro e suas funções. Fonte: https://factotumcultural557916749.files.wordpress.com/2019/05/cerebro.jpg?w=640
  • Cérebro basal ou reptiliano (estrutura similar a esta classe do Reino Animal), é a nossa primeira resposta a uma ameaça ou stress, sendo a parte de nós que garantiu nossa sobrevivência. Imagina o homem das cavernas diante de um tigre-dente-de-sabre ou mamute. Que opções ele tinha? fugir ou lutar, óbvio. E essa decisão só pode levar uma fração de segundos. Por isso tem de ser através de respostas inconsciente e liberação de hormônios, como cortisol e adrenalina.
  • Amídala, sistema límbico ou cérebro mamífero, é o responsável pelos sentimentos. É aqui que depois da surpresa/susto que o reptiliano tem, a gente vai processar um pouquinho melhor o cenário e se dar conta se está sentindo medo, coragem, vergonha, excitação, etc, e se precisa de fato “lutar ou fugir”, se for o caso.
  • O néocortex (presente apenas em animais superiores como os primatas, incluindo nós) é a parte maior, mais evoluída e complexa. É responsável pelo raciocínio e pelas tomadas de decisão mais assertivas. 

A criança já nasce com o cérebro basal pronto, por isso desde o primeiro dia vai sentir sono, fome, e tudo mais relacionado às necessidades fisiológicas básicas e de sobrevivência. O sistema límbico e a mielinização da coluna vertebral vão se formar até os 5 anos, por isso, não adianta exigir comportamentos racionais e lógicos das crianças e nem o controle absoluto de seu corpo. Acredita-se inclusive que é nesta fase que a personalidade que a criança vai carregar para o resto da vida é formada, e que isto pode influenciar até no seu corpo.

A capacidade de raciocínio nesta faixa etária ainda está só no começo. Não ganhou o pirulito ou o amiguinho tomou o brinquedo? Vai chorar e fazer birra mesmo. É “luta ou fuga”…  E muito stress! Tem que acolher, acalentar (mas isso não significa se render aos desejos, pois limites são necessários e benéficos). Com o entendimento disso e com as ferramentas corretas, aí sim, pode-se minimizar todos estes efeitos negativos.

Vídeo: Dr. Daniel Siegel apresenta o modelo visual do cérebro na palma da mão.

Controlando os impulsos e sentimentos

Contudo, nós podemos domar nossos pensamentos e impulsos iniciais e assumir o controle das ações que vamos tomar. Afinal, não enfrentamos um perigo a cada esquina (ou será que sim?). De qualquer forma, para não sair correndo por aí em qualquer situação de stress e racionalizar seus sentimentos e ações, seguem abaixo algumas dicas, válidas para vida adulta e também para orientar as crianças, para aprender a entender e controlar a mente e ter reações mais assertivas:

  • Respirar corretamente – inspirar lenta e profundamente algumas vezes ajuda a oxigenar melhor todo o organismo e com isso ter mais clareza também dos pensamentos;
  • Nomear as emoções – identificar o que está sentindo de fato, ajuda a entender o melhor “antídoto” para minimizar os sentimentos negativos;
  • Usar palavras mais brandas e positivas – atribuir sentidos mais suaves ao que está sentindo ajuda a evitar o melodrama (p.ex. às vezes chamamos de ódio, raiva, o que pode ser apenas uma frustração) e fica mais fácil transformar em algo mais benéfico e positivo;
  • Mais clareza e simplicidade – ao invés de modismos e linguagens complexas, tente usar termos e formas mais simples, claros e coerentes com o seu sentimento. Usar palavras que usaria para ensinar a uma criança. E se até ela é capaz de entender, você pode dominá-lo.
Gugu com o foco do olhar na paisagem clara e simples
  • Desviar o foco – se o nível de stress já está alto, mas não é uma situação de ameaça iminente, às vezes o melhor é desviar a atenção do outro ou sair de cena e respirar fundo. E, somente depois, se for o caso, retomarem ao ponto já sem aquela carga emocional negativa envolvida.
  • Use uma conexão honesta – se sair de cena não é uma opção, tente criar uma conexão com o outro e deixe claro sua vontade em manter a interação de forma amigável e favorável a ambos;
  • Espelhamento – uma vez a conexão estabelecida, existe uma “empatia” inerente em nosso cérebro (que envolve, p.ex. os neurônios espelhos), isso é que faz pessoas refletirem o nosso comportamento, a ponto de parecer nos imitarem. Se você conseguiu controlar todos os sentimentos e se manter calmo e assertivo, ao estabelecer uma conexão com o outro, a tendência é que possa influenciá-lo a ser mais receptivo às suas interações e “comandos” (inclusive isso é muito útil com crianças e cães).

E por aí, como anda o controle dos impulsos? Tá mais para monge tibetano ou é mais do tipo “quando vi, já era tarde”? E comente aí alguma outra dica que funciona pra você.

Um grande abraço,

Pai Alfa.

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Pai Alfa
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