WandaVision, o luto e um ano de pandemia
WandaVision é uma das séries mais assistidas dos últimos tempos e se passa imediatamente após os eventos de Vingadores: Ultimato que foi a culminação de um universo cinematográfico de 10 anos e mais de 20 filmes. Mas não é apenas uma série de heróis. Mostra uma história por uma ótica inédita nesse universo: o luto. E isso, infelizmente, é algo que combina muito com o momento que estamos vivendo, já que estamos completando um ano de uma pandemia que já matou mais de 250 mil pessoas só no Brasil e outras milhões ao redor do mundo.
E os críticos apesar de saberem que adoro fazer referências ao entretenimento da cultura POP por aqui, ainda podem pensar: se este blog é sobre liderança e parentalidade, por que está falando de luto? Óbvio, pequeno(a) gafanhoto(a), porque todo mundo que morreu de Covid-19 era pai, mãe ou filho de alguém, e é difícil manter a disciplina positiva e a liderança assertiva, quando se está com a alma despedaçada por alguém importante que foi apagado da face da terra.
SPOILERS (“levinhos” e não do último episódio)
Pensar em histórias de super-heróis é esperar que no final alguém “salvou o dia” e tudo acabou bem. Por isso é intrigante quando nem tudo dá certo e a presença da morte seja referência tão forte. Eu, por exemplo, trabalhei na adolescência em banca de revistas e na época foi lançada a famosa saga da morte do Super-Homem, pelo temível vilão Apocalipse (depois adaptada nos cinemas em Batman Versus Superman). Porém, quem está acostumado com o universo das HQs aprendeu que ninguém morre em definitivo por muito tempo, sempre se dá um jeitinho. E em se tratando da Fórmula Marvel – que chegou a desintegrar metade do universo para trazer todos de volta no filme seguinte – não causa espanto que até os defuntos, Visão e Pietro, reapareceram na primeira série do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) na plataforma Disney+.
Contudo, o mundo real não tem super-heróis, apenas profissionais de saúde, segurança e outros tantos heróis sem capa – alguns perdendo a própria vida –, lutando desde o começo, na linha de frente, contra esse vírus apocalíptico. Parece uma versão estendida “a la” Zack Snyder do “blip” do Thanos, que num longo estalo está tirando milhares de pessoas da existência a cada dia, sem direito a uma despedida minimante satisfatória para quem fica e sofre o luto.
Os 5 estágios do luto
A minha impressão é que já havia a intensão de que o seriado WandaVision fosse uma sequência que abordasse os cinco passos do luto e a “jornada” da heroína para superar tudo isso. Os amigos psicólogos e geeks fiquem à vontade para concordar com tudo isso… Ou não. Desde que não vire um grande embate de Visões – se é que você me entende… Rsrs –, está tudo bem!
Vou fazer uma análise (nos moldes dos tipos de liderança e parentalidade do universo StarWars) dos estágios do luto, a sequência dos episódios e com uma cena e frase marcante que corrobora com essa ideia:
- Negação – Quem assistiu a série deve ter estranhado os dois primeiros episódios, já que se passavam como as sitcons americanas da metade do século passado. A narrativa nos mostrou que era a protagonista enfrentando o primeiro estágio do luto, literalmente se isolando do mundo em um Hex, em preto e branco, depois de ter perdido todas as pessoas que amava nos eventos anteriores do MCU. Quem está neste estágio não quer admitir a própria realidade e cria uma ilusão.
- Raiva – Surgem reações imprevisíveis e exacerbadas, às vezes atacando até mesmo quem está ali para ajudar. Porém, nota-se nitidamente um início de mudança para um processo de cura com uma nova perspectiva (em cores).
- Barganha –Nova mudança de aspecto. Buscando novas âncoras em que se firmar, a pessoa tenta fazer uma negociação, geralmente com alguma entidade fora da sua realidade, para se manter em sua vida ideal, e acredita que fazer algumas mudanças pode ajudá-la a alcançar a salvação.
- Depressão –Ao perceber que não pode ficar presa ao passado, se rende à dor, ao choro e ao isolamento total. Há uma identificação de que o que foi feito não tem mais volta e vem à tona sentimentos como melancolia e impotência.
- Aceitação – Diante das evidências de que a perda é inevitável, se aceita a condição, o que suaviza um pouco os sentimentos. Apesar de não ser um cenário feliz, é possível vislumbrar a tranquilidade ao se permitir inserir em uma nova realidade.
E aí? Deu vontade de maratonar tudo de novo para compreender os episódios por essa perspectiva? Eu tive que fazer esse “sacrifício” para reforçar minha teoria e elencar as frases marcantes. Rsrs.
O desfecho
A série acabou de forma épica e surpreendente. Seus eventos devem afetar diretamente outras produções da Fase 4 da Marvel, principalmente o próximo filme do Doutor Estranho.
Já por aqui, a pandemia não tem data para ir embora, e também deixa sequelas para os próximos anos. E diante de tudo o que aconteceu nos últimos meses, a impressão que tive no Brasil é que estamos passando pelos mesmos estágios, com alguns, há um ano, ainda presos na fase da negação (mas isso seria provavelmente tema para uma das minhas crônicas). Comenta aqui embaixo se você concorda com isso!
Já que não podemos nos isolar em um Hex, e não temos a Feiticeira Escarlate para mudar nossa realidade, na vida real devemos torcer para que a vacinação seja efetiva e rápida o suficiente para que todos, juntos, erradiquemos este mal.
De qualquer forma, fica meu pesar por todas as vidas perdidas. E é importante entender que ao final da jornada a saudade continuará existindo.
“Mas o que é o luto, se não o amor que perdura?” (Visão).
E você, conhece alguém que morreu por conta do vírus? Sua família está tendo que enfrentar o luto? Por favor, compartilhe. Seu relato pode ajudar alguém a superar também e, quem sabe, incentivar os cuidados e a vacinação dos eventuais negacionistas.
Um grande abraço,
0 Comentários